domingo, 17 de julho de 2011

HÁ CRIANÇAS NA ESPIRITUALIDADE?



Há Crianças na Espiritualidade?

João Eduardo Ornelas

Há crianças no mundo espiritual? Várias obras psicografadas trazem relatos de crianças no mundo espiritual. Nas reuniões mediúnicas médiuns relatam terem visto ou sentido presença de crianças. São comuns descrição de cenas com crianças brincando, rindo e cantando.

Vejamos o que diz o Livro dos Espíritos, na questão 381 Kardec pergunta aos espíritos: Pergunta: Por morte da criança, readquire o Espírito, imediatamente, o seu precedente vigor?  Resposta: "Assim tem que ser, pois que se vê desembaraçado de seu invólucro corporal. Entretanto, não readquire a anterior lucidez, senão quando se tenha completamente separado daquele envoltório, isto é, quando mais nenhum laço exista entre ele e o corpo."

Vemos portanto que, o espírito que animou o corpo de uma criança, ao desencarnar readquire sua forma anterior se apoderando de sua bagagem moral e intelectual conquistada nas precedentes encarnações. Ele não permanece como criança no mundo espiritual.

Mas é de nosso conhecimento que todo espírito que desencarna, não somente a criança, leva um tempo mais ou menos longo, dependendo de seu adiantamento moral, para se desligar do corpo físico e da ultima personalidade vivida na carne. O que se denomina perturbação ou crise da morte existe para todos podendo ser para alguns de duração curta (algumas horas ou até minutos), ou demorado para outros (semanas, anos, décadas...).

Por dedução lógica entendemos que há crianças que desencarnam e recobram quase que imediatamente sua condição espiritual plena devido ao seu adiantamento moral, a maioria tendo em vista a resposta recebida por Kardec na questão supracitada. São aquelas crianças que aqui na terra por vezes demonstram grande maturidade, discernimento, equilíbrio e sabedoria apesar da tenra idade. Temos vários relatos de fatos semelhantes no dia a dia e também nos livros espíritas. Na obra da codificação “O Céu e o Inferno” o espírito do menino Marcel, no primeiro caso do cap 8 da segunda parte ilustra bem o que queremos dizer.  Por outro lado há crianças cujos espíritos ainda estão pouco evoluídos que se prendem por um tempo mais longo a suas personalidades infantis, se acreditando ainda crianças, mantendo a aparência e a conduta infantis. Essas precisam ser amparadas, orientadas e conduzidas no plano espiritual. Daí talvez o relato de algumas obras mediúnicas que narram a existência de instituições ou organizações destinadas a cuidar desses espíritos, não crianças, mas ainda fixados na forma infantil.

O espírito André Luiz, no livro “Entre a Terra e o Céu” segundo nos conta visitou uma dessas instituições denominada “Lar da Bênção” onde havia várias crianças. No momento da visita algumas delas recebiam a visita das mães ainda encarnadas cujos espíritos se encontravam emancipados pelo sono físico. Segundo foi informado a André, as crianças permaneciam ali recebendo cuidados e instrução até recobrarem sua condição de adultos assumindo a consciência de seu patrimônio espiritual, ou reencarnarem sem ainda terem adquirido essa condição para na carne continuarem sua trajetória. A segunda opção, o reencarne rápido,  seria o destino da maioria dos espíritos internados no Lar da Bênção.

É também de André Luiz a consoladora informação de que ele não encontrou crianças nas regiões de sofrimento no mundo espiritual que visitou, locais esses que ele denomina “regiões umbralinas”. Os espíritos que desencarnam nessas condições são logo encaminhados ao auxílio. A  misericórdia  divina não permitiria criançinhas assustadas chorando perdidas, vagando em regiões de sofrimento no mundo espiritual.

Via de regra, não há crianças no mundo espiritual, é o que informa a codificação espírita.  Há espíritos que se apresentam como crianças porque estão fixados em sua última encarnação. Há outros que  se libertaram do condicionamento infantil, mas se apresentam nas reuniões mediúnicas ou em sonhos com a aparência da última encarnação para se darem a reconhecer. Quantos às cenas relatadas pelos médiuns de crianças brincando em parques e cantando felizes podem ser a visão de uma instituição espiritual de auxilio a entidades ainda fixadas na forma infantil, ou podem ser cenas plasmadas pelo pelos espíritos a fim de criar um quadro ameno e agradável, uma ferramenta didática necessária ao trabalho em questão.

Porque tão freqüentemente a vida se interrompe na infância? Foi o que Kardec perguntou na questão 199. Resposta: "A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais."

A respeito do envolvimento dos pais no processo, o espírito André Luiz comenta: "Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a antiga apresentação que lhes era costumeira."

Aos pais que viram seus filhos partirem em tenra idade, para conforto e esclarecimento temos a dizer que:
a)    Caso seu filho tenha demonstrado em seu curto período de vida no corpo físico grande equilíbrio, sensatez, inteligência e bondade, (fato freqüente) certamente trata-se de um espírito evoluído que, uma vez desencarnado recobrou sua bagagem anterior e está, de lá olhando pela família da qual está separado somente fisicamente.
b)    Caso tenha sido uma criança normal, sem algum sinal aparente de evolução adiantada (o que não quer dizer que não a possua), seu filho não está sofrendo. Está no mundo espiritual recebendo amor, orientação e carinho a fim de recobrar sua memória espiritual e/ou reencarnar a fim de continuar sua trajetória.
c)    Em ambos os casos pode-se obter contato, ter encontros e se matar a saudade por meios do pensamento, das preces e nos momentos de emancipação da alma pelo sono físico.
d)    Também em ambos os casos é uma oportunidade de crescimento para os pais, por hora ainda incompreendido, mas que com certeza absoluta coaduna totalmente com a justiça divina na qual devemos confiar.

a seguir um texto extraído da revista espírita.

Questões e Problemas - Crianças, Guias Espirituais dos Pais

Revista Espírita, agosto de 1866


Tendo perdido um filho de sete anos, e tendo-se tornado médium, a mãe teve a mesma criança como guia. Um dia lhe fez a seguinte pergunta:
Caro bem amado filho, um dos meus amigos espírita não compreende e não admite possas ser o guia espiritual de tua mãe, desde que ela existia antes de ti e, indubitavelmente, deve ter tido um guia, nem que fosse durante o tempo que te tivemos ao nosso lado. Podes dar-nos algumas explicações?
Resposta do Espírito da criança: - Como quereis aprofundar tudo quanto vos parece incompreensível? Aquele que vos parece mesmo o mais adiantado no Espiritismo está apenas nos primeiros elementos da doutrina e não sabe mais do que este ou aquele que vos parece ao par de tudo e capaz de vos dar explicações. - Eu existi muito tempo antes de minha mãe, e ocupei, em outra existência, uma posição eminente por meus conhecimentos intelectuais.
Mas um imenso orgulho se havia apoderado de meu Espírito, e durante várias existências consecutivas fui submetido à mesma provação, sem poder triunfar, até chegar à existência em que estava junto de vós. Mas como já era adiantado e minha partida devia servir ao vosso adiantamento, a vós tão atrasados na vida espírita, Deus me chamou antes do fim de minha carreira, considerando minha missão junto a vós mais aproveitável como Espírito do que como encarnado.
Durante minha última estada na terra, minha mãe teve o seu anjo da guarda junto a ela, mas temporariamente, porque Deus sabia que era eu que devia ser o seu guia espiritual e que eu a traria mais eficazmente na via de que ela estava tão afastada. Esse guia, que ela tinha então, foi chamado a uma outra missão, quando vim tomar seu lugar junto a ela.
Perguntai aos que sabeis mais adiantados do que vós, se esta explicação é lógica e boa. Porque por ser que seja minha opinião pessoal e, mesmo a emitindo, não sei bem se me engano. Enfim, isto vos será explicado, se perguntardes. Muitas coisas ainda vos são ocultas e vos parecerão claras mais tarde. Não queirais aprofundar muito porque, então, dessa constante preocupação nasce a confusão de vossas idéias. Tende paciência; e, assim como um espelho embaciado por um sopro ligeiro, se clarifica pouco a pouco, vosso espírito tranqüilo e calmo atingirá esse grau de compreensão necessário ao vosso adiantamento.
Coragem, pois, bons pais; marchai com confiança, e um, dia bendirei a hora da provação terrível que vos trouxe à via da felicidade eterna, e sem a qual teríeis muitas existências infelizes a percorrer ainda.

OBSERVAÇÃO: Essa criança era de uma precocidade intelectual rara para a sua idade. Mesmo em estado de saúde, parecia pressentir seu fim próximo. Alegrava-se nos cemitérios e sem jamais ter ouvido falar em Espiritismo, em que os pais não acreditavam, muitas vezes perguntava se, quando se está morto, não se podia voltar para os que se tinha amado; aspirava a morte como uma felicidade e diria que quando morresse sua mãe não deveria afligir-se, porque voltaria para junto dela. Com efeito, foi a morte de três filhos em alguns dias que levou os pais a buscar uma consolação no Espiritismo. Essa consolação a encontraram largamente e sua fé foi recompensada pela possibilidade de conversar a cada instante com os filhos, pois em muito pouco tempo a mãe se tornou excelente médium, tendo até o filho como guia, Espírito que se revela por uma grande superioridade.

Allan Kardec
Fontes consultadas:
Allan Kardec – O Livro dos Espíritos
Allan Kardec -  O Céu e o Inferno
José Marcelo Gonçalvez Coelho – artigo “Crianças no Além” publicado no Portal do Espírito
André Luiz/FCX – Entre a Terra e o Céu
Allan Kardec – Revista Espírita – agosto 1866 – PDF da FEB

domingo, 8 de maio de 2011

A FAMILIA NO MUNDO DE TRANSIÇÃO

João Eduardo Ornelas

O título desse artigo me foi recentemente proposto como tema para uma palestra. Para falar sobre o papel da família no mundo de transição precisamos antes de tudo nos situar a fim de não sermos influenciados pela gama de informações sensacionalistas, exotéricas, apocalípticas que inundam as publicações que enfocam esse tema bastante sedutor atualmente: transição planetária. 

Nós espíritas, temos o dever de nos pautarmos pela Doutrina dos Espíritos, ou seja, no Pentateuco kardeciano onde se encontra as bases, os fundamentos e a essência da doutrina. É um grande erro aceitar como sendo espíritas, informações que se contrapõem à doutrina, algumas vezes até trazidas por espíritas renomados, bem intencionados e de moral reconhecidamente ilibada, contudo por serem humanos não são perfeitos e às vezes se deixam levar pela onda novidadeira. Fica evidente que a boa parte dessas publicações tem por objetivo maior vender e gerar lucros explorando a curiosidade e o gosto por informações bombásticas e fenomênicas de muitos, para não dizer da maioria.
A doutrina espírita fala sim, com clareza e equilíbrio que lhe são peculiar, sobre a transição planetária. Tudo no universo evolui e os mundos também. O nosso planeta já foi um mundo primitivo que evoluiu e atingiu o estágio em que se encontra atualmente, mundo de provas e expiações. O próximo estágio a ser atingido pela terra é o de mundo de regeneração.

Kardec informa já na  época em que o espiritismo surgiu, que a transição  estava ocorrendo, e que ela se dá de forma gradativa, sem estardalhaço, sem pirotecnia, pouco a pouco. Processa-se via substituição dos espíritos atrasados que habitam a terra  por outros mais evoluídos. Ao apresentar a Geração Nova no livro A Gênese, o codificador coloca que no lugar de um espírito endurecido e persistente no mal que não mais teria condições ou merecimento de reencarnar na terra, viria um espírito evoluído e propenso ao bem. Os primeiros seriam enviados  para mundo inferiores a fim de conquistarem lá, auxiliando o progresso, as virtudes morais que lhe faltam. Diz ainda que as duas gerações se confundem, uma partindo e outra chegando. Ambas convivem no mesmo ambiente.

Vemos, portanto, que pela doutrina espírita não há uma data estipulada para a consumação da tão apregoada transição. Ela se avizinha, já dizia Kardec. E continua se avizinhando, muito mais agora passados 154 anos. Caso houvesse uma data precisa, será que os espíritos da codificação não a saberiam? Santo Agostinho, Sócrates, São Luiz, Erasto e tantos outros sem esquecer o próprio Espírito Verdade, desconheciam tal data? Caso exista essa data, porque não disseram a Kardec? E se disseram, porque Kardec não a publicou?

Citando mais uma vez A Gênese, lá Kardec nos diz que espíritos verdadeiramente ponderados não predizem datas para os fatos futuros, apenas previne aos homens sobre os rumos que os acontecimentos tomarão, quando essa informação é útil para a coletividade. Foram o que os espíritos “ponderados” da codificação fizeram: Mostraram o rumo, a destinação do planeta terra para que tivéssemos fé no futuro do nosso globo e não nos desesperássemos diante dos cataclismo que surgem a cada dia, mas não marcaram data para a consumação da transição. Caso uma data específica realmente exista, qual a relevância de sabê-la?  Como comprovar a veracidade da informação? Qual o proveito na sua divulgação? Penso que ao contrário, pode trazer confusões e desviar as mentes do foco principal do espírita e do cristão de modo geral, que é buscar sempre sua evolução moral e reforma íntima. Quantos seminários, quantas publicações, quantos programas de TV e rádio enfocando a transição recheados de informações sensacionalistas e impossíveis de se comprovar? Quanta perda te tempo!

Desse movimento todo derivam temas como: crianças índigo, astro intruso, nibirú, espíritos evoluídos se reencarnando por fertilização in vitro, data marcada para que os espíritos atrasados deixem de reencarnar na terra, etc. Temas, termos e princípios de seitas esotéricas e filosofias várias são absorvidos por pessoas ligadas ao movimento espírita e apresentadas com entusiasmo sem qualquer verificação ou questionamento. Deixemos claro que não é nenhuma critica a outras filosofias, mas quanto ao fato de misturá-las com o espiritismo.  As bases doutrinárias são deixadas de lado, o que  é no mínimo uma temeridade e um desrespeito com a grande obra dos espíritos superiores contida na codificação.

Diante do exposto qual o papel da família no mundo de transição? O mesmo papel colocado pela doutrina espírita nas obras da codificação como no capítulo IV da terceira parte de O Livro dos Espíritos “A Lei de reprodução”,  no CAP XXII de O  Evangelho segundo o Espiritismo “Não Separeis o que Deus Juntou”, e nos ensinamentos morais contidos em  obras de autores como Emmanuel, André Luiz e outras de reconhecida idoneidade no meio espírita versando temas sobre família, filhos, parentela carnal e espiritual, casamento, namoro,  divórcio, etc.

Embora a modernidade tenha proporcionado modelos novos de família, tais como famílias unicelulares, uniões homoafetivas dentre outros, o espírita convícto tem consciência de suas responsabilidades e das implicações de vidas passadas e para vidas futuras que decorrem da união conjugal. A família, seja qual for sua configuração deve continuar sendo o cenário ideal para o crescimento moral, reconciliação, prática do amor, tolerância e caridade. E a melhor forma de auxiliarmos para a concretização da transição, é proporcionando a nossas crianças o ambiente ideal para que desenvolvam seu potencial espiritual e tenham êxito em suas missões reencarnatórias, o que via de regra deve ser feito num ambiente familiar saudável e equilibrado.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

COMENTANDO O LIVRO "A CABANA"



João Eduardo Ornelas

No final do ano DE 2009 comecei a ler  comentado livro “A Cabana”, de Willian P. Young,  um dos mais vendidos do momento.  Trata-se de uma história de ficção evangélica, gênero que tem crescido muito ultimamente.  No início minha atenção foi presa pela narrativa agradável do drama do personagem central que tem uma filha assassinada num acampamento de verão, sendo que a menina foi seqüestrada por um serial killer e morta numa cabana abandonada.  O pai sofre muito e não se conforma, e alguns anos depois recebe um convite que apareceu na sua caixa de correio, para que retorne à cabana em determinado dia para um encontro, e o dito bilhete é assinado por Deus.
Mackenzie, é esse o nome do personagem, aceita o convite e quando cruza o umbral da porta da velha cabana, todo o cenário se modifica para uma bela e acolhedora residência, inclusive o cenário exterior também se modifica ficando verdejante e florido. Lá nessa bela casa, Mac encontra nada menos que a Santíssima Trindade, ou seja, Pai, Filho e Espírito Santo. Deus, o pai, se apresenta na forma de uma mulher negra e gorda que adora cozinhar. Jesus, o filho, se apresenta como um jovem carpinteiro que usa calça jeans, um porta  ferramentas de couro na cintura e mantém nos fundos da casa uma carpintaria onde constrói coisas aparentemente por hobbye. O Espírito Santo vem na forma de uma pequena e sorridente mulher oriental. A partir daí se desenrola um dialogo entre os quatro personagens sobre temas existenciais: amor,  ódio, revolta, tristeza,  perdão, etc.
Não posso contar mais porque parei de ler, não consegui continuar. Desculpem-me os fãs do livro, mas achei tudo sem cabimento  porque inevitavelmente passei a analisar a obra à luz da Doutrina Espírita. Talvez se a tivesse lido no tempo em que era católico, teria adorado.  O personagem central estava perdido e inconformado com a morte da filha. Sua religião e o que aprendera no catecismo não o estavam ajudando, precisava de algo novo quando surgiu o convite em sua porta. Tenho certeza que o livro é bom e está influenciando positivamente muitas pessoas. Um amigo o leu e ficou visivelmente impressionado e convencido da necessidade do perdão, e o que é melhor está empenhado em trabalhar esse aspecto em si mesmo.
Segundo a doutrina espírita, bem sabemos, Deus é a causa primária de todas as coisas, é pai, é infinitamente sábio, bom, justo, etc. Jesus Cristo é um espírito como todos nós, não é Deus, tendo sido criado simples e ignorante, e por méritos próprios atingiu o grau de perfeição atual. Todos nós seremos como Ele algum dia, e isso Ele mesmo nos disse  quando aqui esteve: “tudo o que eu faço, vós podereis fazer, e muito mais”. E seguindo o mesmo raciocínio, todos nós temos o potencial de nos tornamos um espírito santo, pois não existe o espírito santo, mas espíritos santos, que são aqueles espíritos já evoluíram a ponto de serem considerados como santos,  patamar que todos nós atingiremos um dia.
Dessa forma o tema central do livro A Cabana afrontou minha inteligência, meus conhecimentos espíritas e  minha fé raciocinada. Quando vejo companheiros espíritas dizendo que vão ler o livro e pedem minha opinião, eu digo exatamente isso que escrevo agora. Se você é espírita e gostou do livro A Cabana, tudo bem. Seja como diversão, passatempo, ou se o livro acrescentou algo à sua vida, ótimo. Como disse o Dalai Lamma que a melhor religião é aquela que te faz melhor, igualmente  tudo que te faz melhor é bem vindo e não pode ser criticado por ninguém. É algo pessoal, somente a própria pessoa pode avaliar.  Mas sinceramente, não acredito que alguém que esteja estudando o espiritismo há algum tempo, que esteja lendo Kardec, Leon Denis e outros, venha gostar do livro A Cabana, ou até mesmo consiga lê-lo a não ser com a finalidade de fazer uma analise critica ou satisfazer a curiosidade. Penso que tem muito coisa boa para ser  lida dentro da literatura espírita e não  justificar a leitura de algo que afronta os princípios racionais da fé somente porque o livro está na moda. O espírita convicto já superou essa fase de ler porque todo o mundo leu, e de gostar porque todo o mundo gostou.
Mas se alguém leu e gostou e se sentiu melhor, estimulado a se melhorar, ótimo. O senso de tolerância e respeito ao próximo, largamente defendido pelos ensinamentos espíritas nos leva a não criticar e ficar feliz pelo outro que está evoluindo a seu modo e a seu tempo. Assim como não devemos criticar outras religiões, devemos ter o mesmo procedimento quanto a outros aspectos que enfocam a relação do homem com Deus, como é o caso desse livro.
Basta um pequeno tour pela internet para ver que a comunidade evangélica também contesta essa obra sob vários aspectos, tendo por base a Bíblia interpretada ao pé da letra como fazem na maioria das vezes, o que não é o nosso caso. É possível que tenha até religião por aí proibindo a leitura do livro, o que seria uma ótima divulgação para o autor, e o melhor é que é gratuita.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Simplicidade Voluntária


 
João Eduardo Ornelas
No artigo anterior, Da Lei do Trabalho, falávamos sobre as armadilhas da coerção social que nos leva a buscar um padrão de vida irreal criando para nos mesmos necessidades factícias. Essas ridículas extravagâncias, no dizer dos espíritos, nos tornam infelizes, eternos insatisfeitos e escravos do trabalho. 

Adquirimos coisas por impulso sem analisar sua real necessidade. Façamos um teste: olhemos nossa casa com “olhos de visita” e procuremos identificar objetos, eletrodomésticos, equipamentos e outros trecos que nos são completamente inúteis e perfeitamente dispensáveis. A maioria das coisas que adquirimos por impulso é muito pouco utilizada e serve somente para nos endividar e tornar a vida mais complicada.

Pensando nessas questões, muitas pessoas no mundo inteiro estão aderindo a uma filosofia chamada “Simplicidade Voluntária”. Os adeptos dessa corrente buscam simplificar suas vidas desligando-se da sociedade consumo visando  conquistar liberdade e felicidade por meio do desapego. Não se trata de aderir a uma vida de mortificação e tampouco fazer voto de pobreza, e sim de não ser escravo do consumo. Quem consome menos pode trabalhar menos e assim reservar tempo para coisas que realmente importam: cuidar dos filhos, curtir a natureza, auxiliar o próximo, etc. Basicamente é trabalhar para viver, e não viver para trabalhar.

Os primeiros passos para aderir à essa filosofia são:

1.    Sermos mais críticos frente à máquina da propaganda moderna. Precisamos aprender a rir da grande maioria dos anúncios de tv que teimam em nos fazer desejar e ver como imprescindíveis seus produtos.

2.    Aprenda a confiar mais na Providência. Se você é uma pessoa de fé em Deus, peça e confie. Claro que o Pai não dará uma serpente ao filho que lhe pede pão. E Jesus nos disse para pedir ao Pai o pão nosso de cada dia. Não pedir todo o pão que vamos consumir durante o mês adiantadamente!... Precisamos aprender a confiar e a nos libertar do "poder do dinheiro".

3.    Enfatize a qualidade de vida acima da quantidade de vida. Recuse-se a definir a vida em termos de TER e não de SER. Cultive a solidão, o silêncio. Descubra maneiras novas de se relacionar consigo mesmo, com os seus, com seus amigos, vizinhos. Valorize mais suas amizades, seus filhos, sua esposa. Aprenda a gastar mais tempo em conversar com seus filhos, seu cônjuge. 

4.    Pratique uma recreação saudável, feliz e livre de aparelhos. Você não precisa de uma roupa cara de corrida para correr em volta do quarteirão. Caminhar, correr e nadar estão entre as melhores formas de exercício humano e requerem um mínimo de equipamento. Achegue-se à terra caminhando pelo campo, acampando e fazendo excursões a pé.

5.    Aprenda a comer sensata e sensivelmente. Rejeite produtos cheios de químicos venenosas, cores artificiais, e outros meios questionáveis usados para produzir alimentos comercializados. Elimine alimentos pré-empacotados.

6.    Conheça a diferença entre viagens significativas e viagens desnecessárias. Para começar, recuse-se a acreditar na mentira de que você perdeu a metade da vida se não viu todos os locais glamurosos desse mundo. Muitas das pessoas mais sábias e mais realizadas no mundo nunca viajaram a parte alguma. Se você viajar, vá com propósito.

7.    Compre coisas por sua utilidade, em vez de status. Ao construir ou comprar casas, deve-se pensar em sua habitabilidade em vez de quanto impressionará os outros. Não tenha mais casa do que é razoável. Afinal, quem precisa de sete cômodos para duas pessoas? Você vive sozinho após criar uma família grande? Em vez de deixar sua casa espaçosa, cheia de lembranças maravilhosas, porque não se mudar para um lugar menor, mais fácil de cuidar?

8.    Mobiliário, decoração da casa, pode ser de bom gosto e utilidade, sem custar um exagero. Sua mobília deve refletir você e não alguma vitrine fria e artificial, que nada tem a ver com você.

9.    Aprenda a comprar barganhas. Procure em lojas de objetos usados e você encontrará muita coisa boa que dará aquele toque especial naquele cômodo de sua casa. Lembre-se também que adquirir um item de que não precisamos, mesmo que a um preço ridiculamente baixo não é vantagem alguma.

10. Uma última palavra precisa ser dita. Simplicidade não significa necessariamente ter só coisas baratas, recicladas. Ela ressoa mais facilmente com preocupações com durabilidade, utilidade e beleza. Muitos itens devem ser escolhidos para durar e não como deseja a sociedade de consumo, para serem substituídos daí a pouco tempo.

Como podemos ver, não é preciso virar nossa vida de cabeça para baixo de uma hora para outra para aderir à Simplicidade Voluntária. É questão de fazer adaptações gradativas em nosso comportamento, modificações praticamente  indolores, mas que no fim representarão uma grande mudança em termos de qualidade de vida e bem estar íntimo.
Vamos tentar?
Fonte: site “Simplicidade Voluntária, uma nova maneira de viver”.
No site estão disponíveis os dez passos iniciais que aqui foram apresentados resumidamente, além de outras dicas e matérias sobre o tema simplicidade voluntária.

DA LEI DO TRABALHO.

Estátua do trabalhador situada na Praça C. Drumond. de Andrade em Muriaé/MG

João Eduardo Ornelas
Respondendo a Kardec sobre o trabalho em O Livro dos Espíritos,   o pessoal do lado de lá chama a atenção para uma questão no mínimo intrigante. Dizem eles: “O trabalho é uma lei natural, mas a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e o gozo”.
É indiscutível que as inovações do mundo moderno são necessárias, pois levam a humanidade ao progresso gerando riquezas, empregos, etc. Por outro lado cria para o homem verdadeiras armadilhas uma vez que o induz ao consumo exacerbado e a buscar atender uma expectativa de sucesso preconizado pela sociedade.  Somos bombardeados a todo o momento com anúncios cuja finalidade é nos induzir a consumir mais e mais, dessa forma temos que trabalhar cada vez mais a fim de fazer frente a essa coerção social.
Dizem ainda os Espíritos que a lei do trabalho é uma lei natural e indispensável para a evolução do homem. Tudo na natureza trabalha até mesmo os animais, ainda que aparentemente apenas cuidem de sua subsistência, mas ao fazê-lo auxiliam a natureza na manutenção de seu equilíbrio. Toda ocupação útil é trabalho, não somente aquilo que é passível de remuneração. Cuidar de uma planta, ler um livro edificante, aprender um instrumento musical, conversar com alguém lhe dando atenção e afeto, participar de um grupo de estudos na casa espírita, enfim tudo que é útil é considerado como trabalho.
Os espíritos chamam a atenção de que os filhos devem trabalhar para os pais quando estes estão  idosos, assim como os pais devem trabalharam para os filhos quando estes estão pequenos. Por outro lado a sociedade tem o dever suster aquele que não tem forças para trabalhar, quer por velhice, quer por alguma invalidez. “O forte deve trabalhar para o fraco, e não tendo este família, a sociedade deve fazer o seu papel. Essa é a lei da caridade”.
Ao final do capítulo Kardec nos  brinda com comentários primorosos. Segundo ele, não basta que o homem tenha consciência da necessidade de trabalhar, é necessário que ele encontre uma ocupação. Está o Mestre Lionês a discorrer sobre os desequilíbrios da economia das nações e as problemáticas do mercado de trabalho que não raras vezes resulta em situações de desemprego generalizado, o que segundo ele pode ser comparado a  um grande flagelo. Os economistas buscam a solução em manter o equilíbrio entre a produção e o consumo, que embora possa ser possível não foi ainda alcançado.
 Kardec apresenta a educação como sendo a grande solução para essa questão. Não a educação intelectual, mas a educação moral, pois a verdadeira educação é aquela que é capaz de formar caracteres e implica na aquisição de novos hábitos. A desordem e a imprevidência seriam duas grandes chagas que somente a educação pode debelar.
Com efeito, boa parte dos problemas financeiros das pessoas pode ser reputada à desorganização e à imprevidência. Outra parte significativa desses problemas fica por conta do fato de a maioria das pessoas não se conformar com seu quinhão na partilha dos bens materiais e tampouco se contenta com seu soldo, o que gera sofrimento e inquietações. Por outro lado aqueles que detêm o poder econômico,  não raro abusam de sua autoridade e impõem a seus inferiores excessos de trabalho não os remunerando de forma condizente.
Somente a educação moral e o conhecimento das leis naturais fará o homem compreender que, seja qual for sua situação, riqueza ou pobreza, patrão ou empregado, esta é a oportunidade de aprendizado e crescimento adequada para o  momento vivenciado dentro do seu contexto evolutivo de espírito imortal. Ambas as situações são provas a vencer e trazem em si  suas dificuldades e suas vantagens. Fracassar significa ficar em débito para com  o universo e para com a própria consciência, ensejando em atraso na jornada para a ainda tão distante perfeição.
Aproveitemos pois o privilégio do conhecimento da Doutrina Espírita que nos proporciona as informações e os instrumentos eficazes para nossa educação moral.
“A educação é o conjunto de hábitos adquiridos” Allan Kardec.
Fonte: O Livro dos Espíritos, parte III, cap. 3 – Da Lei  do Trabalho.

Mensagens depreciativas na campanha eleitoral.

 
João Eduardo Ornelas
Nessa época de eleição há um número assustador de e-mails falando mal dos candidatos, desenterrando fatos apresentando dossiês, supostas fichas criminais, vídeos com discursos, montagens, etc. Confesso que a maioria desses e-mails e mensagens eu sequer leio e raramente repasso algum. Muitas dessas mensagens são ressuscitadas e requentadas de eleições anteriores. Não é que eu queira tapar os olhos para a realidade, mesmo porque essa “realidade” apresentada é altamente questionável, pois as informações carecem de fontes e confirmações e tem um objetivo específico que não é o de esclarecer, mas favorecer um candidato em detrimento de outro. O que me leva a não dar importância a essa enxurrada de mensagens depreciativas e com segundas (e às vezes boas) intenções, é uma tomada de consciência que tento assumir a partir de um conhecimento maior das leis naturais que regem nossa existência, adquirido pelos estudos da Doutrina Espírita. Todos os seres humanos do planeta terra tem defeitos e qualidades e  cada um colhe inexoravelmente aquilo que planta. Cada um atua em seu cenário próprio trazido a ele por atos do passado, tendo oportunidade de reparar os erros desse passado e plantar as sementes do futuro.

Tem chamado a atenção a situação do candidato a deputado federal mais votado do Brasil, o humorista Tiririca que obteve  mais de um milhão de votos. Circulam mensagens de indignação lembrando quanto ganha um deputado federal entre salários e regalias. Num primeiro momento o fato é deprimente e revoltante, mas analisemos sob outro prisma: Tiririca é como todos nós fruto de uma sociedade imperfeita e atrasada moralmente. Ele está como todos sujeito ao tribunal da consciência (o único  e verdadeiro tribunal, diga-se de passagem) pelo qual responderá pelas conseqüências de seus atos. Caso não faça nada de útil no Congresso, não será o primeiro nem o último a ter essa conduta. Lembremos que a responsabilidade é proporcional à oportunidade, aquele que está numa posição privilegiada que o permite fazer algo de bom para a coletividade e não o faz, será duramente cobrado pela vida no futuro. Diferentemente daquele que quer fazer, mas não tem oportunidade. E se em vez de fazer o bem fizer o mal, muito maior o seu comprometimento. 

Segundo Raul Teixeira as pessoas que ocupam cargos políticos e agem com desonestidade, se entregando à corrupção e ao enriquecimento ilícito, desviando verbas de saúde, educação e merendas escolares dentre outras, tendem a reencarnar numa condição em que a despeito de possuírem grandes qualificações profissionais, não conseguem um bom emprego, não são aprovadas em concursos, etc. A sociedade fecha as portas para aquele que a maltratou no passado não lhe dando oportunidades. Conhecemos ou já ouvimos falar de  pessoas assim que possuem cursos diversos, doutorados, são poliglotas e apesar de tudo estão desempregadas ou em emprego muito abaixo de suas qualificações. 

Benjamim Franklin opinou que os políticos de modo geral  são movidos pelo interesse pessoal e não pensam no bem coletivo. O que acontece é que, algumas de suas medidas tomadas em interesse próprio acabam por favorecer toda a sociedade por força do exercício da função pública. É o caso do prefeito que busca fazer muitas obras para adquirir prestígio e ser eleito deputado; e uma vez deputado esforça-se por agradar ao eleitorado para ter respaldo de concorrer ao Senado ou ao Governo do Estado e assim por diante. O que o move é interesse pessoal, mas nessa sua escalada política executa muitas obras benéficas à população.  Tudo isso nada mais é que a providencia divina agindo no mundo, cuidando para que as pessoas tenham gradativo acesso a melhores condições de vida, saúde, educação, transporte, apesar de não ser essa a motivação  principal dos políticos. Mesmo atendendo a apelos do egoísmo e vaidade, os políticos acabam sendo instrumento do bem e do progresso, ainda que sem querer. Por isso não podemos dizer que nada de bom advirá da conduta do Tiririca ou de quem quer que seja no cenário político. Não julguemos, essa é a norma para a qual devemos nos atentar.

Dizer que todo político é corrupto e mal intencionado é exagero. Mas é fato que o processo político é tão cruel, tão cheio de artimanhas e armações que afasta dele a maioria das pessoas de bem que não se sujeitam a tal situação. Todo político de carreira, por melhor que seja não se furta a enganar, omitir, dissimular, a defender idéias que não partilha ou acredita somente para conseguir o voto, de trabalhar sua imagem de forma artificial para atrair apoio popular, de fazer acordos espúrios em nome de seu projeto de poder. Aquele que entrar para a política dizendo somente a verdade, não se sujeitando ter sua imagem mascaradas pelos marqueteiros dificilmente será eleito, e caso seja não se manterá no cenário por muito tempo. Acredito (quero acreditar) em exceções. 

Não digo de forma alguma que devamos ignorar o momento eleitoral em nosso país. Ao contrário devemos sim procurar informações tão seguras quanto possível a respeito das propostas dos candidatos bem como sua trajetória política para melhor formarmos nossa opinião. Mas convenhamos, essas mensagens que circulam pelos e-mails não são um instrumento eficaz para isso. Servem sim para promoverem um sentimento de revolta e indignação espalhando baixas vibrações. Cada internauta que abre e lê uma mensagem dessas e se indigna com o seu conteúdo passando a emitir pensamentos e sentimentos de revolta, ajuda a baixar a vibração do planeta. Caso repasse a mensagem para toda sua lista de contatos está colaborando para um estrago muito maior uma vez que o sentimento de revolta é replicado. É por isso que raramente leio e mais raramente ainda reenvio. Às vezes até fico curioso, mas procuro me controlar e passar ao largo.

Acredito que nesses momentos é aconselhável pensar em nossas vidas pessoais e nos questionarmos: será que estamos fazendo todo o bem ao nosso alcance em nosso pequeno campo de ação? O que estamos fazendo para melhorar nosso mundo? Pensemos nisso e oremos pelos nossos políticos, pois eles têm uma oportunidade muito grande de fazer o bem, mas na mesma proporção correm um grande risco de se comprometerem seriamente com as leis de retorno caso se deixem levar pelo caminho da desonestidade. 

******

Apresento uma questão conhecida e que circula na internet há algum tempo. Não posso afirmar a veracidade das informações.
Questões para pensar a respeito...
Questão 2: Estamos no tempo de eleger um novo líder mundial, e o seu voto é contado. Segue alguns detalhes sobre os três candidatos.
Candidato A: Associado com políticos corruptos, consulta astrólogos. Ele tem duas amantes. Ele também  fuma um cigarro após o outro e bebe de 8 a 10 drinques de Martini por dia.
Candidato B: Ele foi expulso do trabalho duas vezes. Dorme até de tarde, usou ópio no colégio e bebe um quarto de garrafa de whisky toda noite.
Candidato C: Ele foi condecorado como heroí de guerra, é vegetariano, não fuma, bebe ocasionalmente  uma cerveja e não tem nenhum caso fora do casamento.
Qual desses candidatos você escolheria?Decidiu?
Candidato A é Franklin D. Roosevelt
Candidato B é Winston Churchill
Candidato C é Adolph Hitler
Para aprendermos a não julgar, e aceitar melhor as pessoas e suas decisões ...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A FUSÃO DO ESPÍRITO COM A BONDADE DIVINA


João Eduardo Ornelas
As obras da codificação nos surpreendem a cada vez que as lemos. Comumente identificamos passagens, ou até mesmo uma frase que haviam passado despercebidas e que encerram em si ensinamentos profundos suscitando profundas reflexões. É por isso que a leitura das obras básicas é uma tarefa perene. Divaldo Franco relatou que dedica religiosamente meia hora por dia para leitura de O Livro dos Espíritos. Ele, um orador com 60 anos de trabalhos prestados na divulgação do espiritismo no Brasil e exterior, um médium incomum que psicografou dezenas de livros e que está em constante intercâmbio com entidades de escol que o assistem, mantém tamanha disciplina de estudos das obras básicas. O que dizer então da necessidade da maioria de nós que ainda engatinha no conhecimento e na prática espírita?!
Proponho fixarmos numa dessas passagens inspiradoras extraída do livro O Céu e o Inferno em sua segunda parte, mais especificamente a comunicação de um espírito que é identificado como “um médico russo”. Nosso amigo narra que sua passagem foi tranqüila, sem qualquer abalo se viu do outro lado feliz e desembaraçado da mísera carcaça (o corpo físico). Foi acercado de inúmeros amigos que o antecederam no desencarne, reconhecendo neles pessoas que havia ajudado, certamente na condição de médico aqui no planeta.  Informa que teve muitas existências e um longo aprendizado, o que lhe permitia agora desfrutar de um lugar de certa elevação no plano espiritual. Revela-se imensamente feliz.
Kardec então pergunta em que consiste sua felicidade. A resposta, diz o médico russo, nos é de  difícil compreensão, sendo uma espécie de contentamento extremo de si mesmo mas destituído de qualquer orgulho ou vaidade posto que esses são predicados de espíritos pouco evoluídos. Seria algo como se sentir saturado, imerso no amor divino. É a alegria infundida pela prática do bem, é saber que se usou o livre arbítrio contribuindo com o progresso de outras pessoas auxiliando-as a se elevarem rumo ao criador. A identificação com essa sensação, o bem estar provocado pela prática do bem, segundo nosso personagem seria oriundo da fusão do espírito com a bondade divina.
Analisemos esse diálogo do insigne codificador Allan Kardec com o medico desencarnado e busquemos extrair dele os ensinamentos preciosos. A felicidade sentida pelo comunicante se estrutura na satisfação infundida pela prática do bem no auxílio ao próximo. Temos aí mais uma vez, de forma inequívoca a receita para nossa realização: a caridade. Esse homem como ele próprio deixa transparecer em suas palavras, cumpriu os objetivos de suas encarnações conforme nos é colocada  na questão 132 de O Livro dos Espíritos: Aperfeiçoou-se passando pelas vicissitudes da matéria em várias encarnações; passou por provas e certamente expiações tirando delas lições para seu crescimento; contribuiu na parte que lhe tocou na obra da criação. Todas essas conquistas o levaram a uma posição privilegiada no mundo espiritual, privilegio esse que não se traduzia em gozo inerte, mas em desejo de continuar trabalhando no bem, agora muito mais tendo em vista as conquistas morais adquiridas que o tornaram mais capaz.
Fazer o bem pelo bem com todo o coração sem visar qualquer tipo de recompensa faz com estejamos fundidos com a bondade divina. Essa fusão pode ser sentida aqui na terra, e certamente alguns a sentiram na maior parte de suas vidas físicas: Chico Xavier, Madre Tereza, Gandhi e outros, muitos deles anônimos. Até mesmo alguns  de nós às vezes sentimos em breves instantes essa fusão do espírito com a bondade divina quando nossas ações resultam num bem aos outros e ao mundo e somos então invadidos por uma sensação de felicidade e bem estar. Mas é por pouco tempo, pois logo o interesse pessoal, o egoísmo e o orgulho ainda muito fortes em nós reassumem suas posições e essa felicidade ainda fugidia e rara em nossa atual vida se esvanece rapidamente.
Ainda estamos longe de fazer o bem espontaneamente, mas somente a custa de muito esforço e sacrifício, porém o façamos de qualquer forma, pois como muito bem disse Emmanuel, “a disciplina antecede à espontaneidade”. Nosso amigo, o medico desencarnado cujas palavras ora analisamos atingiu esse patamar onde consegue fazer o bem naturalmente. Está mergulhado na bondade divina, pois certamente já o estava aqui na terra. A situação vivenciada no plano físico, boa ou má, feliz ou desgraçada prossegue no plano espiritual acentuada não por um agravamento, mas pelo aumento das percepções e sensibilidade do ser agora livre das amarras do corpo físico.
Nosso personagem embora adiantado não atingiu ainda a angelitude. Segundo ele próprio nos narra  conquistou o dom de ver os espíritos mais adiantados, compreender-lhes as missões e saber que num futuro estará na mesma condição. Consegue entrever regiões em que brilha o fogo divino que a nada na terra pode ser comparado, nem mesmo à luz do sol. E conclui seu raciocínio dizendo que é uma grande ventura pensar na possibilidade de se progredir infinitamente.
Estamos todos mergulhados no fluido divino e depende de nós buscarmos a sintonia adequada por meio do “orai e vigiai”. Podemos também sentir a felicidade oriunda da fusão do espírito com a bondade divina na medida em que nos tornemos melhores combatendo em nós o egoísmo e praticando a caridade conforme a entendia Jesus Cristo: benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e o perdão das ofensas. 

INSTINTO, INTELIGÊNCIA E ESCOLHAS


João Eduardo Ornelas
 Os atrativos da matéria densa foram criados por Deus para que nosso estágio na terra não fosse tão doloroso e se cumprisse no tempo necessário. Caso não houvesse nenhuma satisfação em viver encarnado o homem não teria estímulos para manter-se vivo. O prazer no sexo garante a procriação. O prazer na alimentação garante os nutrientes necessários à sobrevivência. Caso não existissem, se não houvesse atrativo no sexo, porque praticá-lo? O mesmo pode-se dizer da comida, se não tivesse sabor ao paladar, porque ingeri-la? O homem se entregaria ao desânimo, se enfraqueceria e desencarnaria rapidamente sem ter assimilado as experiências necessárias à sua evolução. A existencia da humanidade terrestre estaria comprometida.
 Dentro do limite esses prazeres são importantes e até indispensáveis para sobrevivência da espécie, mas ultrapassados esses limites tornam-se nocivos e tendem a prender o espírito na matéria um tempo maior do que o necessário atrasando assim sua evolução. Segundo Hermínio C. Miranda “É preciso compreender que os prazeres que a vida na matéria proporciona não foram criados com a intenção ardilosa de seduzir a entidade espiritual, mas como uma espécie de compensação pelos desconfortos e dificuldades que ela igualmente oferece”. (livro Alquimia da Alma, pág. 32)
 O sexo e alimentação são instintivos. Segundo Allan Kardec “o instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários tendo em vista a conservação deles” (A Gênese, cap. III, pág 74-FEB). Levada pelo instinto uma  planta procura naturalmente a luz do sol e lança suas raízes para a terra e um animal tido como irracional busca o melhor ambiente para sua sobrevivência. É também pelo instinto que uma criança faz os primeiros movimentos, chora e busca o seio materno a fim de saciar a fome. A respeito do instinto Kardec não chegou a uma conclusão precisa quanto à sua natureza exata, deixando em aberto a questão. Concluiu apenas que provém de uma causa inteligente, já que é sempre sábio e correto e visa à preservação do ser. Uma de suas hipóteses é que talvez seja ação direta do anjo guardião de cada ser que age visando preserva-lhe a vida e a integridade em situações em que não pode se cuidar sozinho, corroborando para essa teoria o fato de que o instinto predomina sobretudo nas crianças e nos seres cuja razão é fraca.
 Mas o ser humano não fica indefinidamente sob influencia dos instintos, já que possui inteligência e à medida que essa se desenvolve, a ação do instinto diminui. A inteligência no dizer de Kardec “se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de acordo com a oportunidade das circunstancias” (A Gênese, cap. III, pág. 75, FEB). O instinto é automático e independe de nossa vontade, a inteligência é deliberada sendo, portanto livre. Enquanto o primeiro é sempre correto e seguro, a segunda exatamente por ser livre está sujeita a errar. Com o aumento da inteligência outro atributo se desenvolve, o livre-arbítrio que é a autonomia de escolha. E nem sempre o ser humano escolhe com acerto, pois sua inteligência avalia aspectos de seu interesse que por vezes são movidos pelo egoísmo e pelo orgulho. Assim é que embora o instinto de sobrevivência leve o ser a procurar segurança, a inteligência, o livre-arbítrio podem levá-lo a praticar esportes radicais que põe em risco sua vida somente pela emoção que o perigo proporciona. Essa mesma inteligência quando focada em interesses vis e inescrupulosos leva a muitos a optarem pela criminalidade como meio de obter poder, riqueza e prazer.
 Observa-se muitas vezes que enquanto o instinto impera no ser seus efeitos são corretos e benéficos levando a resultados satisfatórios. Quando, porém a inteligência se desenvolve e passa a substituir o instinto, já não se observa mais essa segurança de resultados, uma vez que como já foi colocado a inteligência é livre e sujeita os equívocos. Essa constatação levou Allan Kardec a fazer uma consideração a respeito do instinto maternal, o mais nobre de todos, e que no seu entendimento não devieria ser entregue às eventualidades caprichosas da inteligência e do livre-arbítrio, pois por intermédio da mãe o próprio Deus vela pelas suas criaturas que nascem.
 Com efeito, o instinto maternal é presente em todas as espécies. Qualquer fêmea da raça animal dita irracional, movida pelo instinto protege sua cria pondo em risco sua própria vida. Na raça humana, porém, dotada de inteligência e livre-arbítrio acontecem fatos lamentáveis tais como abortos, crianças abandonadas à própria sorte e às vezes atiradas ao lixo logo que nascem.
 Mas porque será que Deus permite que tal aconteça? As leis de Deus são perfeitas e justas e visam somente ao bem sendo que o homem encontra em si mesmo tudo o que é necessário para cumpri-la. Essas leis estão inscritas nas consciências dos homens e Deus mesmo as fez lembrar através de seus enviados, os messias e profetas em todos os tempos: Sócrates, Confúcio, Buda e Jesus, nosso mestre maior. E há 152 anos nos enviou o consolador prometido , aquele que veio para relembrar  e completar os ensinamentos  cristãos:  o Espiritismo. As rotas divinas são seguras e se o homem não as segue é por seu livre-arbítrio, e por isso sofre como conseqüência de seus atos equivocados.
 Diante do exposto poderíamos perguntar: se o homem erra ao usar a inteligência e o livre arbítrio não lhe seria melhor permanecer vivendo ao nível dos instintos? Dessa forma não seriam cometidos erros absurdos e cruéis como o da mãe que abandona o filho recém nascido. Entendamos contudo que o objetivo da vida é a evolução, o progresso, o crescimento. Querer permanecer ao nível dos instintos para não assumir as responsabilidades do agir pela inteligência é recusar a evolução. Seria como querer permanecer criança freqüentando a escola infantil recusando-se a crescer e cursar o segundo grau e a universidade.
 O homem é o rei da criação e nele Deus deposita a esperança de grandes feitos. Pela inteligência o homem impulsionou o progresso. O instinto apesar de guia seguro o mantinha em situações de atraso cultural, tinha pouca influencia no meio ambiente e era presa fácil dos males naturais, dos cataclismos etc. Pela  inteligência o homem desenvolveu a agricultura, a pecuária e a ciência em geral. Alcançou altos níveis de conhecimento embora esteja ainda engatinhando sob vários aspectos, sobretudo quanto a desenvolvimento moral.
 Deus criou o bem, o mal nasce do agir errado dos homens. Mas chega um dia em que cada um sente no intimo a necessidade de mudar, cansa de sofrer e praticar o mau, e açodado pelo sofrimento decide pelo mesmo livre arbítrio que o levou a traçar caminhos tortuosos, a agora procurar caminhos corretos. É o momento de crescer de fato. A dor é o aguilhão que impulsiona a evolução. Portanto não reclamemos dessa que é o um grande recurso didático da escola da vida, mas antes aprendamos com ela a encontrar nosso caminho para o Alto, a utilizar nossa liberdade de escolha com sabedoria nos desvencilhando das amarras dos instintos primitivos.
“A dor é o rompimento do casulo que envolve nossa compreensão”. (Kalil Gibran)