quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

COMENTANDO O LIVRO "A CABANA"



João Eduardo Ornelas

No final do ano DE 2009 comecei a ler  comentado livro “A Cabana”, de Willian P. Young,  um dos mais vendidos do momento.  Trata-se de uma história de ficção evangélica, gênero que tem crescido muito ultimamente.  No início minha atenção foi presa pela narrativa agradável do drama do personagem central que tem uma filha assassinada num acampamento de verão, sendo que a menina foi seqüestrada por um serial killer e morta numa cabana abandonada.  O pai sofre muito e não se conforma, e alguns anos depois recebe um convite que apareceu na sua caixa de correio, para que retorne à cabana em determinado dia para um encontro, e o dito bilhete é assinado por Deus.
Mackenzie, é esse o nome do personagem, aceita o convite e quando cruza o umbral da porta da velha cabana, todo o cenário se modifica para uma bela e acolhedora residência, inclusive o cenário exterior também se modifica ficando verdejante e florido. Lá nessa bela casa, Mac encontra nada menos que a Santíssima Trindade, ou seja, Pai, Filho e Espírito Santo. Deus, o pai, se apresenta na forma de uma mulher negra e gorda que adora cozinhar. Jesus, o filho, se apresenta como um jovem carpinteiro que usa calça jeans, um porta  ferramentas de couro na cintura e mantém nos fundos da casa uma carpintaria onde constrói coisas aparentemente por hobbye. O Espírito Santo vem na forma de uma pequena e sorridente mulher oriental. A partir daí se desenrola um dialogo entre os quatro personagens sobre temas existenciais: amor,  ódio, revolta, tristeza,  perdão, etc.
Não posso contar mais porque parei de ler, não consegui continuar. Desculpem-me os fãs do livro, mas achei tudo sem cabimento  porque inevitavelmente passei a analisar a obra à luz da Doutrina Espírita. Talvez se a tivesse lido no tempo em que era católico, teria adorado.  O personagem central estava perdido e inconformado com a morte da filha. Sua religião e o que aprendera no catecismo não o estavam ajudando, precisava de algo novo quando surgiu o convite em sua porta. Tenho certeza que o livro é bom e está influenciando positivamente muitas pessoas. Um amigo o leu e ficou visivelmente impressionado e convencido da necessidade do perdão, e o que é melhor está empenhado em trabalhar esse aspecto em si mesmo.
Segundo a doutrina espírita, bem sabemos, Deus é a causa primária de todas as coisas, é pai, é infinitamente sábio, bom, justo, etc. Jesus Cristo é um espírito como todos nós, não é Deus, tendo sido criado simples e ignorante, e por méritos próprios atingiu o grau de perfeição atual. Todos nós seremos como Ele algum dia, e isso Ele mesmo nos disse  quando aqui esteve: “tudo o que eu faço, vós podereis fazer, e muito mais”. E seguindo o mesmo raciocínio, todos nós temos o potencial de nos tornamos um espírito santo, pois não existe o espírito santo, mas espíritos santos, que são aqueles espíritos já evoluíram a ponto de serem considerados como santos,  patamar que todos nós atingiremos um dia.
Dessa forma o tema central do livro A Cabana afrontou minha inteligência, meus conhecimentos espíritas e  minha fé raciocinada. Quando vejo companheiros espíritas dizendo que vão ler o livro e pedem minha opinião, eu digo exatamente isso que escrevo agora. Se você é espírita e gostou do livro A Cabana, tudo bem. Seja como diversão, passatempo, ou se o livro acrescentou algo à sua vida, ótimo. Como disse o Dalai Lamma que a melhor religião é aquela que te faz melhor, igualmente  tudo que te faz melhor é bem vindo e não pode ser criticado por ninguém. É algo pessoal, somente a própria pessoa pode avaliar.  Mas sinceramente, não acredito que alguém que esteja estudando o espiritismo há algum tempo, que esteja lendo Kardec, Leon Denis e outros, venha gostar do livro A Cabana, ou até mesmo consiga lê-lo a não ser com a finalidade de fazer uma analise critica ou satisfazer a curiosidade. Penso que tem muito coisa boa para ser  lida dentro da literatura espírita e não  justificar a leitura de algo que afronta os princípios racionais da fé somente porque o livro está na moda. O espírita convicto já superou essa fase de ler porque todo o mundo leu, e de gostar porque todo o mundo gostou.
Mas se alguém leu e gostou e se sentiu melhor, estimulado a se melhorar, ótimo. O senso de tolerância e respeito ao próximo, largamente defendido pelos ensinamentos espíritas nos leva a não criticar e ficar feliz pelo outro que está evoluindo a seu modo e a seu tempo. Assim como não devemos criticar outras religiões, devemos ter o mesmo procedimento quanto a outros aspectos que enfocam a relação do homem com Deus, como é o caso desse livro.
Basta um pequeno tour pela internet para ver que a comunidade evangélica também contesta essa obra sob vários aspectos, tendo por base a Bíblia interpretada ao pé da letra como fazem na maioria das vezes, o que não é o nosso caso. É possível que tenha até religião por aí proibindo a leitura do livro, o que seria uma ótima divulgação para o autor, e o melhor é que é gratuita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário