domingo, 20 de fevereiro de 2011

A FUSÃO DO ESPÍRITO COM A BONDADE DIVINA


João Eduardo Ornelas
As obras da codificação nos surpreendem a cada vez que as lemos. Comumente identificamos passagens, ou até mesmo uma frase que haviam passado despercebidas e que encerram em si ensinamentos profundos suscitando profundas reflexões. É por isso que a leitura das obras básicas é uma tarefa perene. Divaldo Franco relatou que dedica religiosamente meia hora por dia para leitura de O Livro dos Espíritos. Ele, um orador com 60 anos de trabalhos prestados na divulgação do espiritismo no Brasil e exterior, um médium incomum que psicografou dezenas de livros e que está em constante intercâmbio com entidades de escol que o assistem, mantém tamanha disciplina de estudos das obras básicas. O que dizer então da necessidade da maioria de nós que ainda engatinha no conhecimento e na prática espírita?!
Proponho fixarmos numa dessas passagens inspiradoras extraída do livro O Céu e o Inferno em sua segunda parte, mais especificamente a comunicação de um espírito que é identificado como “um médico russo”. Nosso amigo narra que sua passagem foi tranqüila, sem qualquer abalo se viu do outro lado feliz e desembaraçado da mísera carcaça (o corpo físico). Foi acercado de inúmeros amigos que o antecederam no desencarne, reconhecendo neles pessoas que havia ajudado, certamente na condição de médico aqui no planeta.  Informa que teve muitas existências e um longo aprendizado, o que lhe permitia agora desfrutar de um lugar de certa elevação no plano espiritual. Revela-se imensamente feliz.
Kardec então pergunta em que consiste sua felicidade. A resposta, diz o médico russo, nos é de  difícil compreensão, sendo uma espécie de contentamento extremo de si mesmo mas destituído de qualquer orgulho ou vaidade posto que esses são predicados de espíritos pouco evoluídos. Seria algo como se sentir saturado, imerso no amor divino. É a alegria infundida pela prática do bem, é saber que se usou o livre arbítrio contribuindo com o progresso de outras pessoas auxiliando-as a se elevarem rumo ao criador. A identificação com essa sensação, o bem estar provocado pela prática do bem, segundo nosso personagem seria oriundo da fusão do espírito com a bondade divina.
Analisemos esse diálogo do insigne codificador Allan Kardec com o medico desencarnado e busquemos extrair dele os ensinamentos preciosos. A felicidade sentida pelo comunicante se estrutura na satisfação infundida pela prática do bem no auxílio ao próximo. Temos aí mais uma vez, de forma inequívoca a receita para nossa realização: a caridade. Esse homem como ele próprio deixa transparecer em suas palavras, cumpriu os objetivos de suas encarnações conforme nos é colocada  na questão 132 de O Livro dos Espíritos: Aperfeiçoou-se passando pelas vicissitudes da matéria em várias encarnações; passou por provas e certamente expiações tirando delas lições para seu crescimento; contribuiu na parte que lhe tocou na obra da criação. Todas essas conquistas o levaram a uma posição privilegiada no mundo espiritual, privilegio esse que não se traduzia em gozo inerte, mas em desejo de continuar trabalhando no bem, agora muito mais tendo em vista as conquistas morais adquiridas que o tornaram mais capaz.
Fazer o bem pelo bem com todo o coração sem visar qualquer tipo de recompensa faz com estejamos fundidos com a bondade divina. Essa fusão pode ser sentida aqui na terra, e certamente alguns a sentiram na maior parte de suas vidas físicas: Chico Xavier, Madre Tereza, Gandhi e outros, muitos deles anônimos. Até mesmo alguns  de nós às vezes sentimos em breves instantes essa fusão do espírito com a bondade divina quando nossas ações resultam num bem aos outros e ao mundo e somos então invadidos por uma sensação de felicidade e bem estar. Mas é por pouco tempo, pois logo o interesse pessoal, o egoísmo e o orgulho ainda muito fortes em nós reassumem suas posições e essa felicidade ainda fugidia e rara em nossa atual vida se esvanece rapidamente.
Ainda estamos longe de fazer o bem espontaneamente, mas somente a custa de muito esforço e sacrifício, porém o façamos de qualquer forma, pois como muito bem disse Emmanuel, “a disciplina antecede à espontaneidade”. Nosso amigo, o medico desencarnado cujas palavras ora analisamos atingiu esse patamar onde consegue fazer o bem naturalmente. Está mergulhado na bondade divina, pois certamente já o estava aqui na terra. A situação vivenciada no plano físico, boa ou má, feliz ou desgraçada prossegue no plano espiritual acentuada não por um agravamento, mas pelo aumento das percepções e sensibilidade do ser agora livre das amarras do corpo físico.
Nosso personagem embora adiantado não atingiu ainda a angelitude. Segundo ele próprio nos narra  conquistou o dom de ver os espíritos mais adiantados, compreender-lhes as missões e saber que num futuro estará na mesma condição. Consegue entrever regiões em que brilha o fogo divino que a nada na terra pode ser comparado, nem mesmo à luz do sol. E conclui seu raciocínio dizendo que é uma grande ventura pensar na possibilidade de se progredir infinitamente.
Estamos todos mergulhados no fluido divino e depende de nós buscarmos a sintonia adequada por meio do “orai e vigiai”. Podemos também sentir a felicidade oriunda da fusão do espírito com a bondade divina na medida em que nos tornemos melhores combatendo em nós o egoísmo e praticando a caridade conforme a entendia Jesus Cristo: benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e o perdão das ofensas. 

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