domingo, 20 de fevereiro de 2011

Fatalidades e Tragédias Coletivas


João Eduardo Ornelas
Sempre que  acontece uma tragédia coletiva, como a queda do avião da Air France que fazia conexão Rio X Paris, a consternação é geral e muitas dúvidas surgem na cabeça das pessoas. Foi uma fatalidade? Existe um destino pré-determinado? As pessoas que passam por tais experiências são escolhidas aleatoriamente? Porque Deus permite tal coisa em que morrem vários “inocentes”? Será que temos mesmo o livre-arbítrio?
O Espiritismo vem lançar uma luz sobre todas essas indagações, e vamos citá-las resumidamente com o intuito de estimular o leitor a se aprofundar no estudo das obras espíritas.
A fatalidade existe somente pela escolha feita pelo espírito ao reencarnar, de passar por essa ou aquela prova (1). Pela lei da reencarnação retornamos várias vezes no cenário terreno a fim de evoluirmos. Quando erramos, precisamos reparar o erro e assimilar o aprendizado inerente àquela experiência. Nosso livre-arbítrio é usado a todo o momento construindo assim nosso futuro. Somos livres para agir, mas prisioneiros da conseqüência de nossos atos. Assim, erros específicos do passado criam a necessidade de desencarnarmos de forma violenta, em acidentes ou assassinatos. Criamos então nossa fatalidade, ao agirmos de forma errada suscitando a necessidade da reparação, e ao escolhermos determinada reencarnação para passarmos pela prova e expiação de determinados atos.
Diz Allan Kardec que, venha de que forma for ninguém deixa de morrer quando chega a hora, a única diferença é que por uma tragédia coletiva, acontecem várias mortes ao mesmo tempo, o que provoca maior impacto (2). Nada nas leis de Deus é inútil. Uma tragédia ou flagelo, além servir de instrumento para a lei de retorno, traz outros benefícios para a humanidade: fazê-la evoluir mais rápido, mostrar ao homem sua pequenez diante de Deus, e oportunidade de se exercitar a fraternidade, abnegação, caridade e paciência.
As pessoas que tem na sua trajetória a programação de desencarnarem num evento coletivo, geralmente estiveram juntas no passado cometendo delitos em comum. No conhecido  caso do incêndio do Edifício Joelma em São Paulo no ano de 1974  as vítimas foram cúmplices de atrocidades contra pessoas inocentes nos tempos das Cruzadas (3). Outro caso conhecido do público e comentado no meio espírita é o incêndio do Gran Circus Norte-americano na cidade de Niterói em 1961, em que as vítimas de então haviam sido algozes dos cristãos na cidade de Lião no ano 177(4).
A reunião dos envolvidos se dá por atração e por compromisso. Segundo Emmanuel, cúmplices de atrocidades do passado voltam ao cenário terreno com compromisso de encontro marcado para desencarnação conjunta em acidentes públicos (5). Os prepostos do Cristo convocam os endividados do pretérito para o resgate em conjunto, ou seja, os espíritos se encarregam de atrair para os eventos as pessoas certas, e de afastar aqueles que devem ser afastados (6). Por isso não há inocentes envolvidos, e muitos são livrados na ultima hora por um fato fortuito, como um despertador que não funcionou, um pneu que furou ou uma intuição forte evitando por exemplo  que se embarque em determinado avião.
O homem poderia evitar ou amenizar várias dessas tragédias, se desse ouvido ao bom senso, se pensasse de forma mais fraterna e menos materialista. Mas por usa própria culpa acaba agravando o fato (7).
Pessoas que desencarnam dessa forma, na sua maioria são espíritos com certo adiantamento moral, pois Deus cobra daqueles que tem condições de pagar. Segundo Herculano Pires, são pessoas que abraçam a prova porque cresceram no amor e trazem em si a justiça imanente. Erraram no passado, mas hoje são heróis do amor no sacrifício reparador (8). Normalmente são recebidas com festas e congratulações no mundo espiritual porque são consideradas vitoriosas, cumpriram com galhardia a tarefa abraçada. Afinal, “As grandes provas são quase sempre um indício de um fim de um sofrimento e de aperfeiçoamento do espírito, desde que  sejam aceitas por amor a Deus” (9).  
A doutrina espírita tem a explicação clara, racional e objetiva pra todas essas questões. E como devemos nos comportar diante da possibilidade da tragédia em nossas vidas? Um dos efeitos do conhecimento é debelar o medo, a insegurança. Somos espíritos imortais e a única fatalidade irreversível é a evolução, à qual estamos fadados inexoravelmente. O objetivo da lei é educar, e não punir, e por isso pode ser flexibilizada.  Conquistar o progresso almejado pela prática do bem faz com que as provas pesadas em nossa vida não sejam mais necessárias ou se tornem mais brandas. Assim podemos evitar ter que passar por um acidente fatal, por uma doença grave ou qualquer outro evento que estava programado a fim de garantir nosso crescimento, se esse crescimento estiver se realizando de forma construtiva na realização de um trabalho no bem e que faça a diferença no mundo ao nosso redor (10).
Nós, consciências endividadas podemos melhorar nossos créditos todos os dias com a prática do bem, do amor e da oração. Gerando novas causas podemos interferir nas causas do mal praticado ontem, neutralizando-as e reconquistando com isso nosso equilíbrio (11) Nosso sofrimento pode ser suavizado ou até anulado pela prática do bem (12). 
O amor cobre uma multidão de pecados. (13)

(1)    “O Livro dos Espíritos” Q 851
(2)    Idem Q 738-b
(3)    "Diálogo dos Vivos" Chico Xavier/
(4)    "Cartas e Crônicas" Chico Xavier/Humberto de Campos (ed. FEB), cap. 6.
(5)    “Chico Xavier Pede Licença” – C. Xavier/ H. Pires/ Espíritos Diversos
(6)    “O Consolador” – Chico Xavier/Emmanuel
(7)    “O Livro dos Espíritos” Q 741
(8)    “Chico Xavier Pede Licença” – C. Xavier/ H. Pires/ Espíritos Diversos
(9)    “Evangelho Segundo o Espiritismo” – Cap. 14
(10)“O Livro dos Espíritos” Q 860
(11)André Luiz – “Ação e Reação”
(12)Allan Kardec – “O Céu e o Inferno”
(13)Palavras do Apóstolo Pedro.

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